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"Após": Relatos de Vivências da pós-graduação - ENTREVISTA COM GABRIEL CABRAL


Para além do Departamento de Psicologia, existem outras experiências que devem ser ouvidas e divulgadas. Por isso, o Nutra entrevistou Gabriel Cabral, mestrando em Química Inorgânica. 

Gabriel Cabral, estudante de mestrado em Química Inorgânica pela UFC (Universidade Federal do Ceará), ao ser indagado sobre sua pesquisa - relata que, atualmente, nos tratamentos de câncer o medicamento utilizado é à base de platina, mas esse remédio ocasiona diversos efeitos colaterais, por exemplo, problemas renais e neurológicos. Diante disso, Cabral tenta desenvolver um novo fármaco à base de cobre - este possui nutrientes às células humanas -, com a capacidade de eliminar a doença. 

Nesse contexto, o desenvolvimento do medicamento pode contribuir a salvar uma vida, assim diz Gabriel, esperançoso com seu projeto. Além disso, ele possui profundo interesse pela temática. Assim, há dois anos no mestrado, ele conta que aprendeu bastante. Nesse sentido, pôr em prática as técnicas e os equipamentos estudados na graduação é algo que Gabriel aprecia muito. Entretanto, este expressa certo descontentamento na sua produção científica, pois, por se tratar de uma teoria totalmente experimental, é constante a quantidade de vezes que a teoria proposta é falha, além de haver uma grande limitação de equipamentos e reagentes disponíveis, isso causa atrasos. Ademais, Gabriel permanece cerca de 12 horas diárias no laboratório de segunda à sexta, e em alguns sábados precisa comparecer pela manhã. Isso aliado ao fato de receber uma bolsa de 1500,00 reais é algo que o desencanta. Ele, Gabriel, pontua que é impossível ter outra fonte de renda para além da bolsa acadêmica, assim, afirma que o dinheiro recebido é pouquíssimo. Dessa maneira, profere que, diante da realidade brasileira, o valor recebido não vale a pena ser seu “ganha pão”. 

Nessa conjuntura, segundo Gabriel, no Brasil não há muitos institutos de pesquisa voltados à área de seu projeto, portanto, supõe-se que existe uma possibilidade frutífera para alavancar essa demanda em seu país. 

Diante do exposto, Cabral postula uma dica valorosa aos futuros mestrandos: “Pense bastante a razão pela qual você está fazendo esse mestrado/doutorado. Estabeleça limites em relação a sua carga de trabalho e lembre-se que quem melhor conhece sua pesquisa é você mesmo; ouça as dicas do seu orientador, mas não tome como verdade absoluta tudo que ele diz.”

"Após": Relatos de Vivências da pós-graduação - ENTREVISTA COM CHICO ALENCAR

Dando continuidade ao "Após: Relatos de Vivências da Pós-graduação" trouxemos a entrevista com Chico Alencar. Chico é formado em Psicologia pela UFC (Universidade Federal do Ceará), possui mestrado também pela UFC e, atualmente, está no doutorado, na mesma universidade. É membro do Núcleo de Psicologia do Trabalho (NUTRA) desde o quarto semestre da graduação. 

Quando indagado sobre sua proposta de pesquisa, Chico relata que no mestrado a ideia foi realizar um estudo sobre processos de informalização do trabalho e migração laboral, a partir de uma investigação de inspiração etnográfica sobre uma categoria de trabalhadores informais conhecida no Ceará, principalmente, como galegos ou crediaristas. Assim, na pesquisa, Chico se propôs a vivenciar e compreender a estrutura e atividade dos galegos, seus processos organizativos e os impactos das atividades que eles exercem sobre a subjetividade desses trabalhadores. 

Nesse contexto, Chico decidiu pesquisar sobre esse tema, pois, quando morava no interior do estado do Piauí, percebeu uma realidade recorrente de pessoas que - por não disporem de oportunidades de trabalho -, saiam do município para trabalhar nas periferias de médias e grandes cidades como galegos/crediaristas. Dessa maneira, ao ingressar no NUTRA, teve contato com a discussão que envolve a Psicologia e o mundo do trabalho. Então, Chico definiu que iria associar as reflexões feitas no núcleo com o contexto em que foi criado (no interior). Posto isso, tomou a atividade dos galegos como objeto de pesquisa.

Assim, Chico conta que foi uma experiência, extremamente, gratificante. Ele não nega que foi desafiadora, pois, por se tratar de uma pesquisa etnográfica, foi necessária vivenciar, na prática, a rotina de trabalho dos galegos. Ademais, pontua que não mudaria nada em sua trajetória de pesquisa, o que deixa claro seu contentamento. Sua pesquisa foi atravessada por inúmeras reflexões a respeito do mundo do trabalho, por exemplo, o fato de que trabalhadores criam inserções econômicas diante de uma falta de oportunidade e, para além disso, como essas inserções impactam nas subjetividades dos trabalhadores. 

Por fim, Chico traz uma dica importante para futuros pesquisadores: “A dica que deixo é principalmente sobre o cuidado que se deve ter com a organização do tempo. Uma pós-graduação exige muito do estudante, os prazos são curtos, então é fundamental ter um bom planejamento.”
 

"Após": Relatos de Vivências da pós-graduação - ENTREVISTA COM PATRÍCIA LEMOS


Patrícia Lemos, estudante do curso de Doutorado da UFC (Universidade Federal do Ceará), possui a pesquisa voltada às questões raciais e o modo como o racismo afeta, sobretudo, as mulheres, e como estas podem desenvolver estratégias de enfrentamento e alteração de suas realidades. 

Dessa maneira, suas participações em coletivos de resistência negra e feministas; o acompanhamento da realidade de outras mulheres pretas e o modo como a discriminação racial atravessou sua experiência; bem como, o compromisso ético que esta discussão implica, levaram-na a pesquisar sobre a temática e perceber em si um interesse, desamisadamente, profundo na temática estudada. 

Para mais, ela conta que a experiência na pós-graduação está sendo intensa em diversos sentidos: diante do nível de excelência do curso, que exige dos discentes grande compromisso e dedicação à produção acadêmica. Patrícia, por morar em outra cidade, precisa realizar deslocamentos semanais. Ademais, precisa conciliar as atividades do trabalho e de vida com a dinâmica ativa da pós-graduação. Por outro lado, o curso possibilita oportunidades de espaços de diálogos e aprimoramento das funções acadêmicas, ao passo que, significativamente, acrescenta no processo de construção docente. Assim, há a interação com outras pessoas e suas respectivas pesquisas, consequentemente, isso amplia o conhecimento científico e de mundo; permite a criação de novos e sólidos vínculos afetivos, além da desconstrução e reinvenção de percepções e ações. O curso também pode levar à abertura de novos campos e oportunidades de ascensão no trabalho.

Nesse contexto, Patrícia, quando perguntada a respeito da possibilidade de ter feito algo de diferente em sua trajetória, diz que se pudesse, teria investido mais na escrita e na produção acadêmica, na participação em grupos de pesquisa. Além disso, prepararia-se mais cedo para concursos públicos na área docente. No entanto, em geral, acredita que construiu um percurso comprometido e exitoso nos seus projetos. Para mais, ela deixa uma dica valiosa aos futuros pós-graduandos: “a dica é estar aberto às possibilidades de crescimento, mesmo quando elas parecem “exigentes” e nos provocam estranhamentos. Aproveitar as diferentes oportunidades o máximo possível. Ter organização, estabelecer prioridades, evitar a procrastinação para não vivenciar ciclos de exaustão e frustração posteriores. Quando vivenciada com equilíbrio e maturidade, a pós-graduação pode ser uma experiência grandiosa.

"Após: Relatos de Vivências da pós-graduação"


Olá, classe trabalhadora!

Para a quarta entrevista, conversamos com Vaneska Meyer, doutoranda do programa de pós-graduação do curso de Psicologia da UFC (Universidade Federal do Ceará). Além disso, a entrevistada possui especialização em Gestão de Pessoas e Psicodrama, isto é, é psicodramatista. Atua tanto na clínica quanto na academia (é professora do curso de Psicologia na Universidade Estadual do Ceará). 

Nessa perspectiva, Vaneska pontuou que sua pesquisa de mestrado foi a respeito do trabalho das donas de casa. Assim, afirma que não é um trabalho que é dado a devida atenção no que tange a valorização. Além disso, destaca que não é visto pelo mercado, pois não apresenta uma troca monetária. Ele possui um objetivo amoroso, por assim dizer. Ademais, para a pesquisa de doutorado, Vaneska está estudando como a pandemia afetou o trabalho reprodutivo dos homens. 

Sob esta ótica, a professora deixa claro ao decorrer da entrevista o motivo pelo qual escolheu este tema para o mestrado e doutorado, isto é, o trabalho de reprodução e manutenção da vida. Nesse sentido, elabora que foi justamente a partir da sua experiência própria como mulher trabalhadora do lar que percebeu inúmeras diferenças entre homens e mulheres que desempenham este trabalho. Portanto, ao pensar esse cenário, Vaneska indagou-se sobre estas formas de trabalho, por exemplo, “De que forma a gente transforma a realidade para que os fenômenos do trabalho possam recair de maneira mais ou menos igualitária entre homens e mulheres?” Assim, Vaneska reitera que foram estas inquietações que a fizeram pesquisar a respectiva temática. 

Além disso, Vaneska conta a respeito dos pontos positivos e negativos em relação a sua pesquisa. Para ela, aproximar-se do próprio objeto de estudo, por ser uma mulher que realiza um trabalho doméstico reprodutivo e perceber, dentro de sua pesquisa, sua própria realidade, é um ponto positivo. Entretanto, é necessário, em certa medida, distanciar-se desse olhar mais pessoal, para assim, obter um olhar mais impessoal, no sentido de abstrair-se de cena.

Ademais, ela relata que se houvesse a possibilidade de retroceder sua trajetória: teria feito o mestrado/doutorado antes de engravidar, pois possui duas filhas pequenas - e, pontua: “é um desafio.” Ela afirma que o mundo do trabalho perpassa por inteiro sua pesquisa, tendo em vista que esta é a respeito do trabalho reprodutivo. 

Por fim, Vaneska deixa uma linda dica para futuros mestrandos e doutorandos: apaixone-se pelo seu tema. Ela acredita ser a melhor maneira de ter um trabalho bem sucedido, pois, assim, será possível enfrentar inúmeras dificuldades que, eventualmente, aparecerão. 

 

"Após: Relatos de vivência da pós-graduação"

 



Olá, classe trabalhadora!


     A psicóloga Eveline, integrante do Núcleo de Psicologia do Trabalho (NUTRA) e doutoranda em Psicologia, foi a terceira entrevistada. A pesquisa da Eveline é voltada para os processos de precarização do trabalho a partir da trajetória laboral de trabalhadores de comida de rua e a forma como isso reflete sobre questões ligadas à informalidade e aos discursos sobre empreendedorismo e trabalho por conta própria. 
Para explicar sua pesquisa para pessoas que estão fora do contexto da universidade, a pesquisadora explica que o fato de estudar ao longo dos anos da graduação em Psicologia sobre esses processos de precarização da realidade dos trabalhadores brasileiros a levou a refletir e questionar o discurso empreendedor sempre divulgado na mídia sobre "ser seu próprio patrão" e, assim, obter sucesso no trabalho. Ela explica que esse discurso revela realidades discursivas que são paradoxais e que levaram-na ao desejo de ouvir os depoimentos dos próprios trabalhadores, bem como, conhecer seus cotidianos de vida e trabalho. 
     Para Eveline, a pesquisa em si é maravilhosa, o fato de poder ouvir tantas trajetórias diferentes, os caminhos e descaminhos é um privilégio. A pesquisadora considera que escutar os trabalhadores nos faz repensar nossos próprios achismos enquanto investigadores, sujeitos e trabalhadores. No entanto, o caminho da pesquisa não é fácil, há empecilhos e percalços, principalmente se relacionarmos ao período mais recente da pandemia. Em sua experiência, fazer pesquisa é um trabalho árduo, mas vale a pena todo o percurso. 
     Ademais, se tratando de sua trajetória acadêmica, Eveline diz que poderia ter feito muitas coisas de forma diferente e que isso teria facilitado sua vida, acelerado a pesquisa, a escrita, aumentado a leitura de livros e de artigos. Porém, conclui que tudo é como é e que todo o caminho que fez a trouxe para onde está hoje, seu arcabouço teórico, seu delineamento metodológico, a escuta das histórias de vida desses trabalhadores. 
      A pesquisadora ainda explica que partindo da consideração de que o trabalho ocupa posição central em nossa produção subjetiva, tudo o que nos propomos a fazer é perpassado por ele e por isso pode-se afirmar que o mundo do trabalho repercute grandemente em sua pesquisa. As mais recentes transformações na esfera laboral são pontos importantíssimos em sua pesquisa, isso fica ainda mais evidente ao investigar sobre trajetórias do trabalho, na medida em que se estuda a história de vida dos trabalhadores 
     A dica da Eveline para os futuros pesquisadores é que ao se propor a realizar uma pesquisa de mestrado ou doutorado você deve ter em mente que fazer pesquisa requer gostar de pesquisa. Muitas vezes o percurso da pesquisa fica nublado e o  que te faz seguir em frente é o aspecto afetivo por aquilo que você vem se dedicando há anos. 
   Portanto, nota-se, de acordo com o relato de Eveline, que o mundo do trabalho atravessa profundamente o cotidiano dos indivíduos e como é importante produzir conteúdos sobre este tema e explicita-se a importância de valorizar as pesquisas realizadas no âmbito das universidades públicas como uma forma de promover análises, mudanças e desenvolvimento social.